Em nome de toda a equipe do Grupo de Pesquisa Programa A Cor da Bahia expressamos a nossa homenagem ao grande líder Nelson Mandela. Os seus ensinamentos e a sua dedicação à luta pela igualdade e pela liberdade continuará a inspirar gerações. Como ele mesmo disse, sabemos que a caminhada é longa e ainda não terminou e por isso buscamos em Nelson Mandela a motivação para prosseguir na busca por uma sociedade livre do racismo.
Sex , 06/12/2013 às 08:31 – A Tarde.com.br
O dia em que a Bahia escutou Nelson Mandela
Marjorie Moura
"A casa é sua, irmão". Este foi o espírito do convite feito pela população da Bahia para recepcionar Nelson Mandela na capital mais negra do Brasil, no evento realizado na praça Castro Alves, no dia 3 de julho de 1991, quando se espremeram cerca de 150 mil pessoas para escutá-lo.
Mandela veio apenas uma vez à Bahia e ficou um dia em Salvador. Ao chegar, foi recebido com festa no Aeroporto Dois de Julho, seguindo para o Palácio de Ondina, onde foi recepcionado com um almoço pelo então governador Antonio Carlos Magalhães. Fez um breve passeio pela cidade, até ser levado para seu encontro com seus admiradores baianos, na "praça do povo".
E a trilha sonora deste emocionante encontro na Castro Alves só poderia ser as músicas criadas e executadas por artistas baianos, ao longo da década de 80, clamando pelo fim do Apartheid e pela liberdade do ativista negro.
Em 1985, Rá Nascimento escrevia Libertem Mandela, popularizada pela Banda Reflexus, que também tornou sucesso Madagascar Olodum, em 1988. Também foi sucesso com a Banda Mel A Cor De Deus (Luiz Carlos, Branca Di Neve e Mazinho Xerife). A lista é longa, mas, segundo o vereador Sílvio Humberto (PSB) , mostrou a opção do movimento negro e dos blocos afros da Bahia de usar o espaço da alegria, que é o Carnaval, para pedir a liberdade de Nelson Mandela.
Dessa forma foi possível 'ganhar' o povo da Bahia para uma luta travada em outra parte do mundo, na África, mas que dizia respeito a cada ser humano.
"Nelson Mandela tem uma simbologia que ultrapassou as cores e ideologias. E sua vinda à Bahia foi o reconhecimento aos que lutaram com ele, mesmo separados por um oceano", declarou Sílvio Humberto, um dos criadores do Instituto Steve Biko.
Ligação
Ilê Aiyê, Olodum e Muzenza surgiram na década de 1970, quando os primeiros grupos de negros começaram a lutar por sua afirmação na Bahia. João Jorge, presidente do Olodum, integrou o Comitê de Recepção Nelson Mandela.
Ele lembra do show musical oferecido ao líder sul-africano, incluindo a execução do hino do Congresso Nacional Africano, Nkosi Sikelel' iAfrica, gravado no disco do bloco "Do deserto do Saara ao Nordeste Brasileiro", em 1989.
"O Olodum talvez seja a entidade negra na Bahia com maior ligação com Nelson Mandela e com a África do Sul. O país foi tema do bloco em duas ocasiões e mantemos relações com os presidentes que sucederam Mandela", lembra João Jorge. O auditório da Casa do Olodum leva o nome de Mandela e abriga livros e lembranças de sua trajetória e da passagem pela Bahia.