A década de 1990 teve início sob forte influência dos protestos e debates que chegaram ao ápice nos “100 Anos da Falsa Abolição” quando as lideranças negras que emergiram das ruas denunciaram a exclusão e a falta de acesso às oportunidades sociais para a população negra. Além das denúncias e mobilizações político-culturais, surgiram iniciativas de realização de estudos e pesquisas sobre o racismo no Brasil, dentro e fora das universidades. O Programa A Cor da Bahia foi criado nesse contexto, no ano de 1992, na Universidade Federal da Bahia, com a dupla missão de realizar pesquisas empíricas sobre as desigualdades raciais, assim como apoiar a formação de jovens pesquisadores/as negros/as e de baixa renda.
Diante da escassez de recursos públicos para fomento à pesquisa, esta iniciativa não teria sido possível sem o apoio de uma organização internacional, a Ford Foundation (EUA). Os resultados incluíram a formação de uma equipe interdisciplinar e transnacional de pesquisadores/as e a indução ao processo de institucionalização do campo de estudos das relações raciais a partir das universidades públicas mais antigas da Bahia (UFBA e UNEB). A formação da equipe propiciou a articulação entre cursos de graduação, de pós-graduação e a carreira docente, assegurando a continuidade dos estudos e pesquisas, cujos resultados foram cruciais nos debates que, na década seguinte, conduziram à criação de reserva de vagas para estudantes negros, quilombolas, indígenas e outros.
Para a disseminação dos resultados das pesquisas foi criada a Coleção Novos Toques que publicou livros autorais e coletâneas. Além disso, foram realizados minicursos e seminários, com convidados locais e nacionais, voltados para estudantes, professores/as, lideranças comunitárias e abertos ao público em geral. O tempo mostrou que as sementes jogadas nesse solo germinaram e dão frutos até hoje.