LIVRO DESTACA TRABALHO DESENVOLVIDO POR NEGRAS E NEGROS INVENTORES E CIENTISTAS

Vejam a íntegra da matéria no link abaixo:

http://www.ceert.org.br/noticiario.php?id=3483


> Livro destaca trabalho desenvolvido por negras e negros inventores
> e cientistas. Por: Juliana Gonçalves
> * Postado por Instituto Mídia Étnica em 31 janeiro 2013 às 11:17
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>
> Fonte: Portal Ceert
> 30/01/2013 De um simples esfregão a uma solda ultravioleta usada na
> indústria espacial, invenções idealizadas e construídas por mãos
> negras ganham publicação inédita no Brasil intitulada ?Negros e
> negras inventores, cientistas e pioneiros? *
>
> O historiador Carlos Eduardo Dias Machado tinha 25 anos quando uma
> publicidade do McDonald?s abriu seus olhos para a invisibilidade do
> protagonismo negro no campo da ciência, tecnologia e inovação.
>
> Era um anúncio da rede de fast food em uma edição da revista
> norte-americana voltada aos afrodescendentes chamada Ebony, que
> circulou em fevereiro de 1996. A publicidade em homenagem ao Mês da
> História Negra trazia ilustrações de objetos que foram inventados
> por pessoas negras (como o semáforo, geladeira, caneta tinteiro,
> pino de golfe e filamento de carbono para a lâmpada elétrica) sob o
> seguinte título: ?Toda a vez que você usa uma dessas coisas, você
> está celebrando a história negra?.
>
> ?Fiquei feliz ao saber disso, mas ao mesmo tempo muito espantado por
> nunca ter ouvido sobre inventores negros antes e nunca ter recebido
> essas informações na escola?, conta.
>
> No mesmo ano, Machado começou a pesquisar sobre o tema e descobriu
> que não havia nenhum livro em português sobre a importância da
> população negra na tecnologia e inovação. ?Pensei: ?alguém tem que
> escrever esse livro, e por que não eu???, lembra.
>
> O livro será lançado em Londrina/PR e São Paulo/SP em março deste
> ano pela EDUEL (Editora da Universidade de Londrina, em parceria com
> a Uniafro do Ministério da Educação). A publicação faz parte da
> série ?Nossos saberes, nossos conhecimentos?, lançada pelo NEA,
> Núcleo de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade de Londrina.
>
>
> Leia abaixo a entrevista com o autor.
>
> CEERT: Fale um pouco sobre o que te estimulou a pesquisar e,
> posteriormente, escrever sobre este tema?
> Carlos Machado: O meu livro versa sobre a presença de mulheres e
> homens negros na área da ciência tecnologia e inovação, acrescido
> daqueles que ganharam o Prêmio Nobel. Depois do episódio do anúncio
> na revista Ebony, comecei a pensar sobre a referência dominante
> sobre a população negra. Referência essa que diz que somos bons
> trabalhadores braçais, fortes, com aptidões nos esportes e nas
> artes. Porém há uma total invisibilidade dos nossos conhecimentos
> nas ciências biológicas e exatas. Na Europa você encontra
> publicações como o meu livro, nos Estados Unidos e Canadá também e
> justamente no Brasil, com maioria da população negra, esse tema era
> intocado.
>
> CEERT: Como foi o processo de escrita e publicação?
> C.M.: Por meio da internet traduzi do inglês para português o perfil
> de vários cientistas. Escrevi o livro só em 2005, então fiquei
> amadurecendo a ideia por muito tempo. Em nove meses, o livro estava
> pronto e comecei a divulgá-lo para as editoras.
>
> CEERT: Você encontrou dificuldade nas editoras?
> C.M.: Sim, grande parte não deu resposta e as poucas que responderam
> vieram com negativas. A verdade é que as editoras não tinham
> interesse em publicar um livro nessa linha de ciência, tecnologia e
> inovação afrodescendente.
>
> CEERT: O livro tem cientistas brasileiros/as?
> C.M: Sim, só que em número reduzido porque na época eu quis dar uma
> abordagem pan-africanista com foco na diáspora. Outra razão que
> acarretou na pouca presença nacional foi a minha dificuldade em
> achar fontes de informação sobre inventores brasileiros. A maioria
> dos sites sobre esse tema é norte-americano. Ainda hoje o Brasil não
> tem um site dedicado ao perfil de cientistas negros brasileiros.
> Creio que a preocupação em produzir inovação no Brasil é algo
> recente, pois sempre houve a cultura de importar tecnologia e não de
> desenvolvê-la. Os cientistas daqui eram desprezados. Por exemplo, um
> amigo que mora nos Estados Unidos me mostrou certa vez uma HQ dos
> anos 70 sobre cientistas negros que foi lançada com objetivo de
> incentivar jovens negros a entrarem na área da Engenharia.
>
>
>
> CEERT: Qual foi a invenção mais curiosa queencontrou na sua pesquisa?
> C.M.: Foi a do Dr. George Washington Carver, pesquisador do
> Instituto Tuskegee, no Alabama, uma universidade historicamente
> negra, onde ficou pelo resto da vida. No seu trabalho científico e
> engenhoso, Carver não só conseguiu vários resultados, como fez muito
> pelo bem dos negros e de toda a região sul dos Estados Unidos. Em
> seu humilde laboratório, pesquisou várias plantas e descobriu muitos
> produtos derivados do amendoim, batata-doce, noz pecâ e outros
> vegetais. Estas culturas eram alimentos apenas dados aos porcos. Um
> de seus feitos mais famosos foi conseguir produzir o índigo, que dá
> o tom às calças jeans e que salvou a indústria estadunidense em
> época de escassez de corantes. Dr. Carver era uma espécie de
> consultor para os pequenos agricultores, e ensinava-os sobre tudo o
> que se referia a plantações. Além disso, fez conferências para a
> associação dos agricultores e empresários do amendoim,
> aconselhando-os sobre o plantio e
sobre a produção de derivados desse vegetal. O cientista também
impressionou positivamente o Congresso americano quando foi convidado
a dar sua opinião sobre a viabilidade econômica de produzir o
amendoim, substituindo as importações. Ele foi amigo de presidentes
dos Estados Unidos, ministros da agricultura e de empresários brancos
como Henry Ford e Thomas Edison, que o convidou para trabalhar em sua
empresa de invenções, impressionado pelas descobertas que saíam do seu
laboratório. Ele inventou tintas, café, nitroglicerina usando o
amendoim como matéria-prima. Além disso, é o inventor da pasta de
amendoim. Imagine que no início do século XX a monocultura do algodão
ou do fumo havia empobrecido o solo americano e as invenções de Carver
surgiram como uma alternativa de renda para muitas famílias.
>
>
> CEERT: Algum exemplo brasileiro?
> C.M.: Sim, o cientista e engenheiro André
> Rebouças. Ele tinha grande influência na família real brasileira no
> século XIX, tanto que com o fim da monarquia, em solidariedade à
> família real, ele deixou o Brasil. Criou muitas pontes e estradas.
> Foi homenageado em grandes cidades, dando o nome para importantes
> avenidas, como em São Paulo e para o túnel Rebouças no Rio de
> Janeiro.
>
> CEERT: Como você acha que a invisibilidade do negro afeta os indivíduos?
> C.M.: Ela afeta justamente a nossa humanidade. Ela deixa de revelar
> que o protagonismo negro não está restrito ao samba e futebol, mas
> sim que somos múltiplos e isso não é ensinado na escola como
> deveria. Nasci em 1970, estudei na época de ditadura militar, os
> poucos personagens negros que apareciam nas aulas eram
> embranquecidos. Mesmo na Literatura, como ocorre até hoje com
> Machado de Assis.
>
>
> CEERT: Essa tentativa de inviabilizar o negro é um fenômeno mundial?
> C.M.: Sim, sem dúvidas. O mundo todo vem de uma tradição
> eurocêntrica e milhões de mentes acreditam na História do jeito que
> ela é contada por eles nesses mais de 500 anos de dominação europeia
> no mundo. A genialidade negra e indígena foi esquecida por séculos e
> os europeus se apoderaram de muitos conhecimentos. Todo o
> conhecimento que recebemos nas escolas e universidades tem base
> greco-romana, como se antes de Grécia e Roma não tivessem existido
> outras civilizações. Ora, já foi provado que os primeiros seres
> humanos surgiram no continente africano.
>
>
> CEERT: Hoje você é professor de História da rede pública de ensino.
> Como é tocar nessa pauta na sala de aula?
> C.M: Eu tento fazer minha parte, mas tenho consciência que somos
> poucos em meio a muitos que resistem a mudanças no seu modo de
> ensinar. Creio que o livro ajuda a potencializar a disseminação da
> informação sobre a genialidade negra que ficou por muito tempo
> escondida. A força da hegemonia branca e do racismo é muito grande.
> Por exemplo, a Universidade surgiu na África. As três mais antigas
> do mundo ficam lá. A primeira surgiu no Marrocos, seguida do Egito e
> Mali. Ou seja, lugares que têm uma influência universitária muito
> antiga, mas nem ao menos esse dado é difundido no mundo. Daí, quando
> você vem e fala sobre grandes cientistas negros e, infelizmente, o
> senso-comum ainda se choca. Apesar da Lei 10639/2003 que completou
> 10 anos, ainda pouco foi feito para mostrar que a população negra
> tem influência em todas as áreas do conhecimento.
>
>
> CEERT: Pode citar três grandes invenções que foram idealizadas por
> mulheres negras?
> C.M.: Sim. Vou citar três americanas. No campo da medicina temos a
> invenção da oftalmologista Dra. Patricia Bath. Ela inventou a sonda
> Laserphaco em 1981. A sonda realiza cirurgia à laser nos olhos. Até
> hoje sua invenção é utilizada. Outra mulher de destaque é a Madame
> C.J. Walker. Ela foi a primeira mulher milionária dos EUA. Ganhou
> muito dinheiro com a criação de produtos para cabelos. Ela é a
> inventora do pente quente usado antigamente nos alisamentos de
> cabelos crespos. Em 1908, criou fábricas e escolas de beleza muito
> antes da existência das grandes empresas de cosméticos. A última é
> uma pesquisadora que trabalha para a NASA na área de novas
> tecnologias para aviação. Seu nome é Anna McGowan e é diretora de
> projetos dentro de um centro de investigação. Ela pesquisa um modo
> de criar aviões tão manobráveis e ágeis como os pássaros e insetos
> voadores.
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> *O esfregão e o balde que o acompanha foram criados pelo inventor
> negro Thomas Stewart, em 1893. Já a sonda ultravioleta foi criada
> por George R. Carruthers, em 1972. Sua invenção foi utilizada na
> missão Apollo 16 à Lua. (Informações extraídas do livro ?Negros e
> negras inventores, cientistas e pioneiros)
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> Sobre o autor: Professor Mestre em História Social pela USP,
> ex-bolsista da Fundação Ford e professor da rede pública de ensino.
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